27.1.07

Do Livro das Oferendas...



Rudolf Leonhard (1889-1953)

A árvore

para a Electra


Como a árvore que além se ergue
sobre esta terra

tão leve e cheia e certa
de folhagem,

tão de luz cheia,
tão viva ao vento,

tão bem plantada,
tão bem crescida,

tão integrada,

assim hás-de tu estar,
assim estás tu

sobre esta terra.



Ingeborg Bachmann (1926-1973)



Vasto é o mundo...

para a Cristiana


Vasto é o mundo e os caminhos das terras que vi,
e muitos os lugares, e a todos conheci;
vi todas as cidade que aos pés das torres se estendem,
os homens que virão e os que já se despedem.
Vastos eram os campos de neve e de sol,
entre carris e estradas, entre a montanha e o vale.
E era vasta a boca do mundo e cheia de vozes no meu ouvido
e ditava-me, ainda noite, os cânticos do mundo dividido.
Bebi de cinco copos o vinho, de um só trago,
quatro ventos, em sua casa mutante, secam-me o cabelo molhado.

A viagem chegou ao fim.
Continuo amarrada a tudo o que é distância, inteira,
mas nenhum pássaro me levou para lá da fronteira,
nenhuma água, das que correm para a foz,
arrasta o meu rosto, que os olhos no chão traz,
arrasta o meu sono, que não quer ser levado...
Sei que o mundo está mais perto e está calado.

Por trás do mundo uma árvore haverá
com folhas feitas de nuvens
e uma coroa que de azul se tece.
Na sua casca de fita vermelha de sol
o vento grava o nosso coração
e com orvalho o arrefece.

Por trás do mundo uma árvore haverá,
nos seus ramos um fruto,
e com casca de ouro se vem mostrar.
Vamos olhar para á,
quando ele, no outono do tempo,
para as mãos de Deus rolar!