12.4.07

Walther von der Vogelweide
(c. 1170-1228/1230?)
Médio Alto Alemão



ELEGIA

Ai de mim, para onde foram / os anos da minha idade?
Sonhei toda a minha vida, / ou será realidade?
Era mesmo verdadeiro / o que por vero tomei?
Se o era, andei a dormir, / agora já nada sei.
Agora, que estou desperto, / vejo que foi ilusão
o que antes eu conhecia / como a palma desta mão.
A terra e as gentes que a mim de pequeno me criaram,
agora acho-as tão estranhas / como se nunca existiram.
Os que comigo brincaram / estão velhos e cansados.
Os baldios hoje são searas, / os bosques estão cortados:
não corresse ainda a água / como outrora corria,
e juro que o meu desgosto / mui grande seria.
Hoje já mal me saudam / os meus amigos de antanho,
nunca pensei que i houvesse / um desconsolo tamanho.
Quando nos dias felizes / hoje me ponho a cismar
que deixei fugir assim / como uma rede no mar,
mais digo: ai de mim, coitado!

Ai, que jeito triste este / de a gente nova se dar,
dos que antes tão delicada / tinham a maneira de ser!
Hoje só sabem resingar: / ai, por que serão assim?
Para onde quer que me vire, / alegre não há nem um.
Dançar e rir e cantar / vão-se, de tanto cuidado:
nunca até hoje ninguém viu / bando tão acabrunhado.
Vejam só nossas mulheres / e os toucados que trazem:
e os garbosos cavaleiros / que trajos do campo usam.
Chegam de Roma inquietantes / letras para nos obrigar
a andar sempre de luto / e a nunca nos alegrar.
Era boa a nossa vida, / e o que me dá raiva agora
é ter de trocar por pranto / o nosso riso de outrora.
Até as aves dos campos / estão mais tristes cada dia,
que admira então, se eu próprio / perdi a minha alegria?
E assim vou falando, irado, / buscando, pobre de mim,
as delícias deste mundo - / as do outro já perdi!
E digo: ai de mim, coitado! /

Ai, fomos envenenados / com doenças a granel!
Já vejo o fel a boiar / no meio do doce mel:
o mundo por fora é belo, / branco, verde e encarnado,
mas por dentro é todo negro, / e pela morte ensombrado.
Quem por ele se perdeu, / que procure consolação:
com pequena penitência / achará a salvação.
Atentai bem, cavaleiros, / que esta causa é a vossa.
Vós, que usais elmos brilhantes, / e essa armadura grossa,
e também escudos fortes / e a espada consagrada.
Quisesse Deus que a mim / tal bênção me fosse dada!
Então este pobre homem / rica paga iria ter,
mas não de terras e ouro / que isso é cousa de senhor:
se assim fosse, eternamente / aquela coroa ia usar
que um soldado e sua lança / já puderam conquistar.
Pudesse eu nessa viagem / pelo mar ir embarcado,
ia cantar de alegria / e não dizer: ai, coitado,
e não dizer: ai, coitado.